Foto: Deni Zolin (Diário)
Presidente de Sescon-RS, Celio Levandovski
Neste sábado, é comemorado o Dia do Contador, porque em 22 de setembro de 1945, foi criado o primeiro curso superior de Ciências Contábeis no país. A profissão enfrenta vários desafios na atualidade, pois com a crescente informatização, têm surgido até sites que prestam serviços de contabilidade só pela internet, sem necessidade de o cliente ir até um escritório. Essa tem sido uma preocupação dos profissionais e empresas do setor, já que pode significar o corte de empregos e risco para os clientes.
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Porém, na visão do presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias Informações e Pesquisas do Estado (Sescon-RS), Celio Levandovski, a chegada das empresas de contabilidade via internet pode, também, ser uma oportunidade. Levandovski comentou sobre os desafios da profissão de contador e sobre um projeto que ajuda órgãos públicos a reduzirem gastos. O Observatório Social, mantido pelo Sescon-RS, tem várias unidades no Estado, inclusive em Santa Maria, em que voluntários conferem licitação e até se obras públicas estão andando como previsto, para evitar erros e corrupção. Segundo Levandovki, o Observatório precisa de mais voluntários. Em Santa Maria, quem tiver interesse pode entrar em contato pelo e-mail observatoriosocialsantamaria@gmail.com. Confira a entrevista abaixo.
CONTADOR OU CONTABILISTA?
Para o público em geral, é comum fazer confusão entre os termos contador ou contabilista. Afinal, qual a diferença entre eles? Contabilista era mais usado para tratar do profissional com nível técnico em Contabilidade, mas também vinha sendo adotado para definir, popularmente, quem faz serviços contábeis, englobando tanto os contadores, que têm nível superior, quanto os técnicos em contabilidade. Para evitar essa confusão, o Conselho Federal de Contabilidade determinou o termo "contabilista" fosse substituído por "profissional de contabilidade" para designar todos que trabalham com serviços contábeis. Assim, o dia 25 de abril, que era o Dia do Contabilista Brasileiro, tornou-se o Dia do Profissional de Contabilidade, em homenagem a todos que trabalham nessa área, seja contadores ou técnicos em Contabilidade. O técnico em Contabilidade exerce funções semelhantes ao contador, mas não pode fazer alguns serviços que são de prerrogativa exclusiva do contador, como análises de balanços, auditorias e perícias.
Confira a entrevista com o presidente do Sescon-RS:
Diário - Empresas de contabilidade prestando serviços via internet têm ganhado espaço. Como o senhor vê isso?
Celio Levandovski - Antes de ser concorrência, é uma oportunidade. A contabilidade online só está traduzindo o que mercado espera da gente, que faça e se adeque à inteligência artificial, porque a gente vem de uma história que é de muito trabalho braçal, e hoje você precisará um trabalho bem mais intelectual e com tecnologia. É uma forma de você reinventar o teu negócio. Mas tu vais ter aquele público que quer uma inteligência artificial e a entrega de uma solução, mas também a gente não prescinde da questão de uma opinião do contador. Então, o contador, e a empresa de serviços que ficar voltada só para solução, que antigamente a gente chamava de darfista, que entregava só o (Darf do) imposto (a ser pago), esta pode enxergar esses serviços pela internet como uma concorrência. Mas aquele que entrega soluções de inteligência, de dados do seu cliente, que são trabalhados, e com esses dados poder mudar o seu negócio, esses ainda terão mercado.
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Diário - A maioria das empresas está conseguindo essa evolução, ou está arraigada nesse estilo darfista?
Levandovski - O mercado está fazendo com que as pessoas se movimentem. O que o pessoal chama de crise, eu chamo de adequação, que a gente está vivendo agora. E os escritórios, muitas vezes, têm de renegociar com seu cliente, mexer nos processos e automatizar para reduzir o seu custo, para não onerar o cliente. O cliente já tem, historicamente, o governo, que tem tirado dele cada vez mais. E aí nós temos uma novidade, que são as cobranças de multas, que antes estavam num patamar de 75%, e hoje estão em 150%. Então, a gente tem aí pessoas que, se não se adequarem, o mercado vai recolocá-las.
Diário - O Observatório Social é mantido pelo Sescon. Como funciona esse trabalho e como as pessoas podem ajudar?
Levandovski - Eu sou também vice-presidente do Observatório de Porto Alegre, além de o Sescon-RS manter outros oito ou nove observatórios no Estado, inclusive em Santa Maria. A gente precisa envolver mais a sociedade. Precisamos de mais engenheiros, mais economistas, mais profissionais em geral para que eles contribuam mais. A gente tem relatórios quadrimestrais e a cada relatório há um volume maior de ganhos, ou seja, reduções. Como ele faz um trabalho preventivo, evita que coisas erradas aconteçam. E muitas vezes, até por falta de informação.
Diário - O senhor pode dar algum exemplo de economia para a sociedade obtida por meio do Observatório?
Levandovski - Um exemplo: um erro de uma vírgula no preço de um edital para compra de medicamento. Cada pílula é R$ 0,01, e errou para R$ 0,10. Isso, multiplicado pelo número de pílulas a ser comprada, dá um valor alto. Em Porto Alegre, foi um valor significativo que se economizou ao descobrir esse erro. Medições de obras, isso tudo são ganhos que o Estado tem.
Outro exemplo de Porto Alegre: há pouco nós fizemos um trabalho na Orla do Guaíba, que é obra grande. E ali nós contamos com a ajuda dos engenheiros, e a obra tinha falhas de cálculo e isso onerou a obra. Isso não foi o contador que descobriu, por não ser a nossa especialidade. Então, tinha de ter um engenheiro.
Diário - Em Santa Maria, já tem um Observatório funcionando. Como as pessoas de várias áreas podem ajudar?
Levandovski - Existe, primeiro, uma reunião de sensibilização, que em Porto Alegre, é semanal. Aqui, não sei detalhes. Lá, todas as segundas e terças, a gente faz reuniões presenciais ou por teleconferência, em que se pega um determinado tema e editais para analisar. Já é sistematizado, e as pessoas podem fazer uma parte do processo. É uma questão colaborativa, cada um vai contribuir com uma parte e, com isso, consegue-se fazer um excelente trabalho.
Diário - É um trabalho voluntário?
Levandovski - Totalmente.
Diário - Que tipo de profissionais o Observatório Social mais precisa hoje?
Levandovski - De pessoas com vontade de ajudar. Claro que especializadas em algumas áreas, mas, de repente, você precisa fazer um trabalho mais braçal, de fazer visita em algum local, em alguma obra, e ver, por exemplo, se vai ter capina em determinado local, para ver se ela está acontecendo.
Diário - Ou pode precisar de pessoas para comparar editais de diferentes cidades ou órgãos públicos, para saber porque num lugar o preço é bem mais caro do que em outro?
Levandovski - Sim. Como a gente é uma rede, temos um banco de dados nacional, e isso facilita muito. O voluntário vai fazer lá sua comparação e pega dados de vários Estados. Claro que, às vezes, tem diferença de valores por ser uma realidade distinta. O mais importante, que eu acho, é o funcionário público, pois, às vezes, o gestor passa, mas o funcionário segue, e ele saber que tem alguém ali para ajudar é importante. O Observatório não tem a função de fiscalizar, não é um tribunal de contas, ele tem o sentido de ajudar, de evitar o erro. Até porque, lá na frente, esse erro gera uma multa para o gestor. E uma multa pesada, que pode até inviabilizar uma próxima candidatura dele.